sexta-feira, 16 de novembro de 2012

AÇÕES DE CONVIVÊNCIA COM A SECA-5 (SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL-B): AS SEMENTES CRIOULAS

  


As sementes crioulas, também chamadas da paixão ou da esperança, sempre estiveram com os(as) agricultores(as). Sendo selecionadas e cultivadas ano após ano pelas famílias elas atendem às nossas necessidades e estão adaptadas às condições da nossa região e aos nossos sistemas de produção. E tudo isso sem precisar dos venenos e nem dos adubos químicos.
Além disso, as sementes crioulas não são todas iguais como as sementes das empresas produtoras de sementes. Numa mesma variedade crioula, tem uma grande variação entre as sementes, e é isso o que dá mais resistência às pragas e doenças. Veja o tempo, por exemplo, que está cada vez mais incerto: tem hora que faz verão no inverno, vem geada na primavera, frio de puxar as blusas já perto do verão... E as secas então! A semente crioula é que nem a gente: ano a ano ela aprende a viver no lugar! Como tem muita variação na semente crioula, dificilmente o agricultor perde tudo: umas plantas resistem menos, outras resistem mais... e o investimento é muito baixo. O resultado final é que o balanço é positivo.
Pela nova Lei de Sementes e Mudas brasileira, ninguém pode proibir um(a) agricultor familiar de produzir e vender suas sementes locais para outros agricultores familiares, inclusive nas feiras.
Além disso, não existe mais nenhum impedimento para as prefeituras e os governos usarem sementes locais nos seus programas de distribuição ou troca-troca de sementes.
As sementes crioulas são aquelas melhoradas e conservadas pelas famílias agricultoras ao longo de séculos, adaptadas às suas condições de solo e clima, às suas práticas de manejo e preferências culturais. Historicamente, as comunidades agrícolas têm sido responsáveis pela conservação de uma riquíssima diversidade de espécies e variedades, adaptadas aos mais diferentes usos e necessidades. Essa diversidade faz parte da estratégia produtiva desses agricultores: elas fornecem alternativas de alimentos, forragem, fibras e remédios ao longo do ano, entre outras vantagens, enriquecendo a dieta e diversificando as possibilidades de obtenção de renda.
Essa riqueza também está relacionada aos diferentes usos (alimentação, forragem, comércio, preparação de comidas típicas etc.) e características de interesse (duração do ciclo, resistência à seca ou à umidade excessiva etc.). Assim como a diversidade de espécies, a diversidade genética dentro de uma mesma espécie é de enorme importância para diminuir a vulnerabilidade dos agricultores: se numa lavoura existirem diversas variedades de feijão, por exemplo, dificilmente uma doença, praga ou extremo climático dizimará todas elas.
A biotecnologia proporcionou muitos avanços na área do melhoramento, mas teve um efeito negativo em relação à continuidade das espécies ou raças, e, ao negar a prática acima mencionada, criou-se alguns sérios problemas:
Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo;
Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também porque essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas;
Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis a pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas – tanto os sistemas naturais como os cultivados;
Crescente dependência de grandes corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.
As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie, como acontece nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais.
As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.
Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como, por exemplo, milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abóbora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de sementes crioulas.
A disponibilidade e continuidade dessas sementes são virtude e missão da agricultura familiar/camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes, e menos dependentes de insumos. São também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).
O futuro da segurança e soberania alimentar e nutricional de uma nação pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas.
Fonte: Dodesign-s/ANA 

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