A INDÚSTRIA DA SECA
Por Caroline Faria
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“Indústria da seca” é
um termo utilizado para designar a estratégia de alguns políticos que
aproveitam a tragédia da seca na região nordeste do Brasil para ganho
próprio. O termo começou a ser usado na década de 60 por Antônio Callado que já
denunciava no Correio da Manhã os problemas da região do semi-árido brasileiro.
Os problemas
sociais no chamado “polígono da seca” são bastante conhecidos por todos,
mas nem todos sabem que não precisava ser assim. A seca em si, não é o
problema. Países como EUA que cultivam áreas imensas e com sucesso em regiões
como a Califórnia, onde chove sete vezes menos do que no polígono da seca, e
Israel, que consegue manter um nível de vida razoável em um deserto (Negev),
são provas disso.
A seca é um
fenômeno natural periódico que pode ser contornada com o monitoramento do
regime de chuvas, implantação de técnicas próprias para regiões com escassez
hídrica ou projetos de irrigação e açudes, além de outras alternativas. Estes
últimos, porém, são frequentemente utilizados para encobrir desvios de verbas
em projetos superfaturados ou em troca de favores políticos.
Os
“industriais da seca” se utilizam da calamidade para conseguir mais verbas,
incentivos fiscais, concessões de crédito e perdão de dívidas valendo-se da
propaganda de que o povo está morrendo de fome. Enquanto isso, o pouco dos
recursos que realmente são empregados na construção de açudes e projetos de
irrigação, torna-se inútil quando estes são construídos em propriedades
privadas de grandes latifundiários que os usam para fortalecer seu poder ou
então, quando por falta de planejamento adequado, se tornam imensas obras
ineficazes.
O Açude do
Cedro, em Quixadá (CE), é frequentemente utilizado como referência para
descrever este tipo de empreendimento da indústria da seca: com capacidade para
aproximadamente 126 milhões de m³, foi construído em pedra talhada à mão, com
esculturas e barras de ferro importadas, mas que chegou a secar completamente
no período de 1930 a 1932, durante um dos piores períodos de seca enfrentados
pela região, ou seja, quando mais se precisava dele. Mais uma obra faraônica,
na longa história de projetos faraônicos da indústria da seca. É claro que hoje
a obra constitui um patrimônio histórico e cultural importante, mas é como
distribuir talheres de prata para quem não tem o que comer.
E a história
se repete. A transposição do Rio São Francisco é um
dos pontos principais da campanha do governo atual e é uma questão mais que
polêmica. De um lado estão aqueles que defendem que a obra é legítima e poderá
acabar com a seca do nordeste (senão todo, pelo menos grande parte dele). E de
outro aqueles que defendem que a obra é mais um fruto da indústria da seca e
que além de não resolver o problema, ainda pode agravá-lo ao alterar todo
regime hídrico da região e pôr em risco um dos patrimônios naturais mais
importantes do Brasil colocando em risco a sobrevivência do próprio rio.
Assim a
situação segue. Perpetuada antes pelo fenômeno político da chamada “indústria
da seca” do que pelo fenômeno natural da “seca” em si, a tragédia que atinge
grande parte da região nordeste brasileira e parte da região norte de Minas
Gerais costuma ser utilizada (e supervalorizada) para justificar a fome e o
subdesenvolvimento econômico e social da região que são, nada mais, do que o
reflexo de uma administração duvidosa que faz fracassar qualquer tentativa de
reverter este quadro com o intuito de fazer perdurar o modelo de poder vigente.
http://www.infoescola.com/geografia/industria-da-seca/, in 13/10/2012
ALIMENTADA PELA ESCASSEZ, "INDÚSTRIA DA
SECA" FATURA COM A ESTIAGEM NO NORDESTE
Carlos
Madeiro
Do UOL, em
Tacaratu (PE)
·
A seca no Nordeste é sempre
sinal de sofrimento para o sertanejo. Mas a falta de chuva também movimenta o
meio político e o comércio das cidades atingidas pela estiagem. A chamada
“indústria da seca” fatura alto com a falta de alimentos para os animais e de
água para os moradores.
O exemplo
mais conhecido no sertão – e relatado por diversos moradores ao UOL–
é o uso político na distribuição dos carros-pipa, marca registrada do
assistencialismo simples. Segundo os relatos, alguns políticos visitam as
comunidades e se apresentam como “responsáveis” pelo envio da água. Os
moradores também reclamam da alta nos preços de serviços e alimentos para os
animais.
“A prefeitura nos ajuda muito, nos
mandando água por carros-pipa. Às vezes demora, mas sempre vem”, conta a
agricultora Maria Gildaci, 66, de Tacaratu (PE), sempre citando que o prefeito
é "quem manda" o carro para a sobrevivência dela e da família, que
vive em uma pequena casa no sítio Espinheiro.
Falas como a Gildaci, agradecendo os
políticos, são comuns, mas a prática está sendo combatida por organizações do
semiárido. “Água é um direito, não é dada de favor. Agricultores relatam com
frequência que vereadores se apresentam trazendo carros-pipa e que prefeitos
estão se utilizando disso para as eleições. Estamos fazendo levantamentos e
vamos tentar identificar onde isso está ocorrendo para tomarmos providências”,
afirma o coordenador da ASA (Articulação do Semiárido), Naidson Batista.
Para Batista, o uso político da água é
histórico no Nordeste, mas vem perdendo força nos últimos anos. “A indústria da
seca, na história brasileira, é um instrumento de alguns, em detrimento de
outros, para aumento de poder econômico, político ou social de determinado
grupos. Embora ela venha perdendo força, não seria possível erradicar uma
prática de 400 anos em apenas 10”, afirma.
Segundo o coordenador, os
investimentos cobrados, como poços, barragens e cisternas, não foram feitos a
contento ao longo dos anos, o que facilitou a política assistencialista.
"Isso faz parte da indústria da seca, pois deixa o sertanejo vulnerável, à
espera sempre de ações emergenciais."
O diretor do Polo Sindical do Médio
São Francisco da Fetape (Federação dos Trabalhadores em Agricultura de
Pernambuco), Jorge de Melo, também relata que políticos e fazendeiros ainda se
aproveitam da seca para lucrar. “É só começar a escassez de alimentos para ter
gente aumentando o preço das coisas. É o que chamam da lei da oferta e procura.
Além disso, há um claro uso político, que vem sendo combatido e está
enfraquecendo, mas ainda existe no sertão”, diz.
Para tentar reduzir o desvio político da água, o
governo de Pernambuco anunciou, na última quarta-feira (16), que os carros-pipa
contratados pelo Estado serão equipados com GPS e terão fiscalização dos conselhos
de desenvolvimento dos municípios –que ficarão responsáveis por enviar
relatórios mensais sobre o cumprimento dos cronograma
MAPA MOSTRA AS CIDADES VISITADAS PELO UOL EM QUATRO ESTADOS
Ganho econômico
Além do uso político, muitos setores
da economia também faturam com a venda de produtos. Um dos exemplos é a palma
(espécie de cacto que serve de alimento para o gado). Segundo os moradores, o
preço da tarefa de palma (equivalente a uma área plantada de 3.053 m²), que
antes da estiagem ficava em torno de R$ 1.200, hoje chega a custar até R$ 2.500
em algumas localidades de Alagoas e Sergipe.
“Quem tem sua palma plantada para os
seus animais não quer vender. Agora a seca é boa para aqueles que plantam a
palma como investimento e estão vendendo mais caro e lucrando muito”, citou o
produtor Vilibaldo Pina de Albuquerque, de Batalha (AL).
O carro-pipa também é um negócio
rentável. Os preços cobrados pelos “pipeiros” no sertão inflacionaram com a
seca. “Existe, e muito, a indústria da seca. Um exemplo: antes, a prefeitura
contratava um carro-pipa por R$ 100 para lavar o matadouro. Hoje, para o
sujeito trazer a mesma quantidade de água ele cobra R$ 200. E olhe que o preço
do combustível não subiu e ele pega água no mesmo lugar”, afirma o secretário
de Infraestrutura de Batalha (AL), Abelardo Rodrigues de Melo.
Em Sergipe, os investidores estão
comprando carros-pipa para ganhar dinheiro. “Hoje, quem tem um dinheiro
sobrando está comprando um carro-pipa para distribuir água. Demanda é o que não
falta. Aqui estamos precisando de mais, mas não há”, diz o coordenador da
Defesa Civil de Poço Redondo (SE), José Carlos Aragão. "E o carro-pipa não
é a solução, e só uma política emergencial. Hoje você leva a água, amanhã já
precisa de novo. É um investimento de curta duração."
Na cidade sergipana –a mais afetada do
Estado, com 15 mil pessoas atingidas pela estiagem--, o movimento de carros-pipa
é intenso e atua em diversos setores da economia. Na oficina de Antônio
Rodrigues, cresceu a procura por consertos dos caminhões. “Hoje 30% do que
faturo é com esses carros. Contratei até uma pessoa para me ajudar, porque a
procura é grande e tem caminhão aqui todo dia. Queria não ter mais esse
serviço, que aqui chovesse e o povo parasse de sofrer. Mas estou trabalhando
dignamente.”
Melhores condições
Para o economista Cícero Péricles,
apesar da “indústria da seca” ainda existir, as condições de enfrentamento do
sertanejo à seca atual são melhores do que aquelas enfrentadas na última grande
estiagem, em 1998.
“Há mais de uma década a política de
água obteve ganhos consideráveis pela entrada das cisternas e barragens
subterrâneas nos espaços da agricultura familiar, reforçando os antigos
instrumentos, como os poços artesianos, tubulares, barreiros, açudes e
adutoras. A presença dos órgãos públicos mudou da intervenção exclusivamente
assistencialista e emergencial para instituições públicas, com maior capilaridade,
municipalizadas, que fazem a cobertura permanente com os programas sociais. A
ampliação da Previdência Social no campo, assim como de programas de
transferências de renda, a exemplo do Bolsa família, reduziram em muito a
pobreza absoluta no meio rural”, afirma o economista.
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/05/19/alimentada-pela-escassez-industria-da-seca-fatura-com-a-estiagem-no-nordeste.htm, in 13/10/2012
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/05/19/alimentada-pela-escassez-industria-da-seca-fatura-com-a-estiagem-no-nordeste.htm, in 13/10/2012
Meteorologistas já apontam 2012 como um ano atípico com
uma realidade que não se via há mais 30 anos
Foto: Reprodução/Internet
Por Diego Martinelly
A seca volta a castigar
municípios de várias cidades do Nordeste. Só em Pernambuco, o governo federal
já reconheceu mais de 45 cidades em estado de emergência. Os meteorologistas e
representantes de órgãos ligados à agricultura já apontam 2012 como um ano
atípico e que esta realidade não se via há mais 30 anos na região.
As boas notícias que pairavam
no cenário econômico do Nordeste deram lugar às cenas de localidades rachadas
pelo sol, animais mortos, plantações perdidas e de pessoas desoladas à espera
de ajudas governamentais. Até quando vamos continuar presenciando esta situação?
É difícil enxergar mudança neste cenário porque, infelizmente, ainda temos
abutres se beneficiando do sofrimento do povo.
Contratos bilionários são firmados nesta época para que
carros-pipas abasteçam as comunidades, poços artesianos sejam perfurados e cisternas
sejam construídas. São meras ações paliativas que ficam no imaginário de quem
está morrendo e ainda garantem o futuro ou o prolongamento do mandato dos
vereadores, prefeitos e governadores da região. Em 1953, cansado de ver animais
e pessoas morrendo por uma das maiores secas que castigaram esta região, o
símbolo da música nordestina, Luiz Gonzaga, retratou em versos o pedido de
socorro aos governantes da época. Na canção “Vozes da Seca”, Gonzaga dizia
assim:
Dê serviço a nosso povo; Encha os rios e barragens; Dê
comida a preço bom; Não esqueça a açudagem; Livre assim nóis da esmola; Que no
fim dessa estiagem; Lhe pagamo inté os juros; Sem gastar nossa coragem.
Se estivesse vivo, o Rei do
Baião poderia até regravar esta canção porque a realidade continua a mesma. As
esmolas começaram a ser liberadas, o pedido para que encham as barragens e os
rios continua, e o trabalho praticamente não existe nas lavouras porque foi
tudo perdido.
Já estamos pagando os juros com a transposição do Rio São
Franscisco, obra que deveria ficar pronta este ano, mas que, por
atraso, só deve ser concluída em 2015. Os anos vão se passando e o custo da transposição também aumenta.
Agora o jeito é ter coragem para escutar mais promessas neste ano eleitoral.
NORDESTE: A INDÚSTRIA DA SECA
Trata-se de um fenômeno natural,
caracterizado pelo atraso na precipitação de chuvas ou a sua distribuição
irregular, que acaba prejudicando o crescimento ou desenvolvimento das
plantações agrícolas.
O problema não é novo, nem exclusivo
do Nordeste brasileiro. Ocorre com freqüência, apresenta uma relativa
periodicidade e pode ser previsto com uma certa antecedência. A seca incide no
Brasil, assim como pode atingir a África, a Ásia, a Austrália e a América do
Norte.
No Nordeste, de acordo com registros
históricos, o fenômeno aparece com intervalos próximos a dez anos, podendo se
prolongar por períodos de três, quatro e, excepcionalmente, até cinco anos. As
secas são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI.
As chuvas no semi-árido nordestino
normalmente ocorrem de dezembro a abril. Quando elas não chegam até março, é
sinal de que haverá seca. Muitas vezes fica sem chover dois ou três anos; em
casos excepcionais, a falta de chuvas pode durar até cinco anos, como aconteceu
de 1979 a 1984.
A seca se manifesta com intensidades
diferentes. Quando há uma deficiência acentuada na quantidade de chuvas no ano,
inferior ao mínimo do que necessitam as plantações, a seca é absoluta. Em
outros casos, quando as chuvas são suficientes apenas para cobrir de folhas mas
não permitem o desenvolvimento normal dos plantios agrícolas, dá-se a seca verde.
Essas variações climáticas prejudicam
o crescimento das plantações e acabam provocando um sério problema social, uma
vez que expressivo contingente de pessoas que habita a região vive,
verdadeiramente, em situação de extrema pobreza.
A seca é o resultado da interação de
vários fatores, alguns externos à região (como o processo de circulação dos
ventos e as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento atmosférico,
impedindo a formação de chuvas em determinados locais), e de outros internos
(como a vegetação pouco robusta, a topografia e a alta refletividade do solo).
Muitas têm sido as causas apontadas,
tais como o desflorestamento, temperatura da região, quantidade de chuvas,
relevo topográfico e manchas solares. Ressalte-se, ainda, o fenômeno "El
Niño", que consiste no aumento da temperatura das águas do Oceano
Pacífico, ao largo do litoral do Peru e do Equador.
A ação do homem também tem contribuído
para agravar a questão, pois a constante destruição da vegetação natural por
meio de queimadas acarreta a expansão do clima semi-árido para áreas onde
anteriormente ele não existia.
A seca é um fenômeno ecológico que se
manifesta na redução da produção agropecuária, provoca uma crise social e se
transforma em um problema político.
As conseqüências mais evidentes das
grandes secas são a fome, a desnutrição, a miséria e a migração para os centros
urbanos (êxodo rural).
Geralmente o problema da seca costuma
ser exagerado, de tal maneira que a maioria das pessoas pensa que ela é a maior
causa da pobreza no Nordeste. Na verdade, o problema principal do Nordeste é de
ordem social e tem origem não na escassez ou falta de chuvas, mas na desigual
distribuição da terra e da renda gerada na região. Ao transformar a seca na
grande culpada pelos males nordestinos, está-se criando o chamando “mito da
seca”.
Simultaneamente, existe a tão falada
mas nunca erradicada “indústria da seca”. Trata-se de um conjunto de
expedientes ou procedimentos de poderosos grupos nordestinos que se valem do
fenômeno e sobretudo do mito da seca para colherem benefícios governamentais em
proveito próprio.
A questão da seca não se resume à
falta de água. A rigor, não falta água no Nordeste. Faltam soluções para
resolver a sua má distribuição e as dificuldades de seu aproveitamento. É
"necessário desmistificar a seca como elemento desestabilizador da
economia e da vida social nordestina e como fonte de elevadas despesas para a
União ...desmistificar a idéia de que a seca, sendo um fenômeno natural, é
responsável pela fome e pela miséria que dominam na região, como se esses
elementos estivessem presentes só aí".
Alimentando de forma dramática o
noticiário sobre a seca veiculado pelos meios de comunicação, esses grupos
conseguem obter do governo verbas e auxílios a título de socorro às regiões atingidas
pela falta de chuvas.
Porém, a ajuda governamental beneficia
muito mais os membros de tais grupos do que a população efetivamente castigada
pela seca. Ao controlarem a distribuição do dinheiro recebido, fazendeiros e
políticos de influência – vereadores, deputados etc. – manipulam a ajuda a ser
concedida, dirigindo-a para pessoas e lugares de onde possam obter vantagens ou
favores: afilhados ou parentes, redutos eleitorais, etc. Ao mesmo tempo, sob a
argumento de que ficaram arruinados com a seca, empresários não só deixam de
pagar suas dividas bancárias, como ainda conseguem novos empréstimos em
condições especiais.
No que se refere às tentativas de
solução do problema, o governo é influenciado a conseguir grandes obras, como
barragens e enormes açudes, que consomem formidáveis verbas públicas. A maior
parte dessas verbas vai para o pagamento das empresas construtoras, muitas
vezes ligadas direta ou indiretamente a pessoas que fazem parte dos grupos
dominantes regionais. Além disso, as obras grandiosas geralmente beneficiam
apenas aos grandes fazendeiros e não aos que realmente sofrem com a seca – os
pequenos produtores. Quando de pequeno porte, os açudes construídos pelo
governo são feitos em terras de grandes fazendeiros, que integram os grupos favorecidos
pela “indústria da seca”.
Nessas condições, não é de estranhar
que o problema das secas não se resolva. Sua efetiva solução deitaria por terra
os interesses mesquinhos de grupos poderosos, que conseguem vantagens com a
pobreza e o sofrimento de milhares de nordestinos.
A tragédia da seca encobre interesses
escusos daqueles que têm influência política ou são economicamente poderosos,
que procuram eternizar o problema e impedir que ações eficazes sejam adotadas.
A idéia de resolver o problema da água no semi-árido foi, basicamente, a
diretriz traçada pelo Governo Federal para o Nordeste e prevaleceu, pelo menos,
até meados de 1945. Na época em que a Constituição brasileira de 1946
estabeleceu a reserva no orçamento do Governo de 3% da arrecadação fiscal para
gastos na região nordestina, nascia nova postura distinta da solução hidráulica
na política anti-seca, abandonando-se a ênfase em obras em função do
aproveitamento mais racional dos recursos.
Como ações emergenciais, tem-se
apelado para a distribuição de alimentos, por meio de cestas básicas e frentes
de trabalho, criadas para dar serviço aos desempregados durante o período de
duração das secas, dirigidas para a construção de estradas, açudes, pontes.
Não é possível se eliminar um fenômeno
natural. As secas vão continuar existindo. Mas é possível conviver com o
problema. O Nordeste é viável. Seus maiores problemas são provenientes mais da
ação ou omissão dos homens e da concepção da sociedade que foi implantada, do
que propriamente das secas de que é vítima.
Soluções implicam a adoção de uma
política oficial para a região, que respeite a realidade em que vive o
nordestino, dando-lhes condições de acesso à terra e ao trabalho. Não pode ser
esquecida a questão do gerenciamento das diretrizes adotadas, diante da
diversidade de órgãos que lidam com o assunto. Medidas estruturadoras e
concretas são necessárias para que os dramas das secas não continuem a ser
vivenciados.
Referência
MOREIRA, João Carlos / SENA, Eustáquio
de. “Trilhas da Geografia – O passado e o presente. Volume 6.
http://www.fundaj.gov.br/docs/pe/pe0114.html
Autoria: Silvana Bahia Alves
"INDÚSTRIA DA SECA" NO NORDESTE É UM ÓTIMO NEGÓCIO PARA OS PREFEITOS MUNICIPAIS PRINCIPALMENTE EM ANO ELEITORAL
PREFEITURAS
TERÃO ANISTIA DE DÍVIDAS E AINDA RECEBERÃO MUITOS RECURSOS. E O POBRE?
Os
problemas sociais existem em todo o Nordeste, mas a culpa pela miséria da
região sempre recaiu sobre o fenômeno das secas. De fato, elas muitas vezes
inviabilizam as atividades econômicas no sertão, dizimando o gado e fazendo com
que os sertanejos deixem suas terras em busca de melhores condições de vida.
Mas a seca não é a única responsável por toda a situação. Questões como a
distribuição de renda e de terras costumam ser deixadas de lado nas discussões.Durante
anos, grupos políticos e econômicos aproveitaram-se
do flagelo da região em benefício próprio. Divulgando situações de calamidade
pública, essa elite vem conseguindo importantes ajudas governamentais, como
anistia das dívidas, verbas de emergência e renegociação de empréstimos.
Tais auxílios nem sempre beneficiam a população afetada pela estiagem. Muitas vezes, o dinheiro público é
usado para a construção de açudes e para o desenvolvimento de projetos de
irrigação que trazem benefícios apenas para os próprios dirigentes. Tudo isso
caracteriza a chamada "indústria da seca", ou seja, uma série de
medidas que eternizam o problema para impedir que o auxílio desapareça.
Trata-se
de um fenômeno político segundo o qual latifundiários nordestinos e seus
aliados políticos nas diversas esferas de governo utilizam a seca para angariar
recursos públicos a pretexto de combatê-la. Tais recursos são aplicados
em benfeitorias em suas propriedades particulares, como por exemplo, a
utilização de "frentes de trabalho", pagas pelo governo, para
construir açudes em suas terras. Não raro, os recursos
são desviados para finalidades distintas das atividades agropecuárias ou combate à seca. Finalmente, o mesmo
argumento da seca é utilizado para não pagarem as dívidas contraídas. Desta forma, os recursos governamentais destinados
ao combate à seca não atingem a população que é mais castigada, beneficiando às
elites locais. Como consequência, políticas mais eficazes são proteladas, uma
vez que é do interesse dos latifundiários a eternização do problema.
Junto à
isto, está o voto
de cabresto, no qual as mercadorias vindas em prol da seca são desviadas e
usadas pelos "industriais da seca", para comprar votos dando-as aos
latifundiários, fazendo com que eles peçam aos seus trabalhadores que votem no
político o qual lhe deu a mercadoria. Algumas soluções para à seca foram
formuladas, entretanto, têm-se interesse na continuidade do problema, para que
a população continue apoiando os políticos através da venda
de votos.
Essa "indústria" aumentou ainda mais
as disparidades entre proprietários e trabalhadores rurais. Essa situação serviu
para preservar o coronelismo e muitas vezes reforçar o clientelismo.
Já naquela época, tudo indicava que qualquer solução para o problema teria,
necessariamente, que passar por uma reformulação do sistema de posse e uso da
terra, o que era, e continua sendo, em larga medida, inaceitável para os
grandes proprietários de terra.
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